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Um relato sobre depressão e superação

Leia este emocionante relato de um leitor que compartilha conosco o seu processo de cura da depressão.

Setembro é o mês de conscientização sobre a prevenção do suicídio. Tendo isto em mente, a nVersos Editora disponibiliza abaixo um relato verídico de Guilherme Lobo, nosso leitor, que compartilhou conosco a sua experiência com a depressão e uma tentativa de suicídio. O objetivo de compartilhar essa história é de conscientizar mais pessoas sobre a causa principal do suicídio: a depressão.


“Minha depressão começou a dar seus primeiros sinais em 2009, aos meus 16 anos, porém, só fui realmente diagnosticado em 2013, aos 20 anos, na faculdade onde estudava na época. No Carnaval daquele mesmo ano um amigo de infância havia cometido suicídio. Não foi muito surpreendente, visto que eu não me sentia mais no meu "normal" há muito tempo. Daí em diante não tive muita saída, não consegui continuar os estudos, pois, alguns dias eu só estava fisicamente na aula e minha mente "abafava" o que os professores diziam e os meus problemas gritavam dentro da minha cabeça e eu não conseguia me concentrar.

Levei um tempo até conseguir contar para minha família que estava vivendo esse turbilhão, pois, sabia que iriam desdenhar e dizer besteiras sobre a doença, assim como a maioria das pessoas, o meu grupo familiar também era ignorante sobre o tema saúde mental e depressão. Tais assuntos ainda eram tabus a serem quebrados naquela época dentro do meu convívio.

Não havia saída e nem acolhimento, ao menos, era o que eu pensava. Sendo assim, a única opção que me restava era: entender o que caracteriza a depressão e como ela age. Então, fui estudar sobre a depressão para compreender o que estava acontecendo comigo enquanto enfrentava aquilo tudo sozinho. No começo senti muita vergonha e sabia que era um problema que eu não escolhi ter, mas existia tanto julgamento e desdém, tanto dentro quanto fora da minha casa, que tinha medo de abrir o jogo e piorar ainda mais a minha situação. E assim, me decidi por manter a depressão em segredo.

Ao longo de três anos virei uma montanha-russa de sentimentos. Eu oscilava entre esperança, desespero, desistência e não conseguia ver saída, pois, não podia pagar por terapia ou conversar com alguém que não me julgasse. Enquanto enfrentava a depressão minha família me taxou de desocupado e culparam a doença pelo fato de não frequentar mais a igreja, como se a depressão fosse falta de Deus. Tudo se tornou uma grande bola de neve que quase me fez perder o controle de mim mesmo.

Até que em fevereiro de 2016, após algumas noites com insônia e crises de ansiedade, me tomei pelo desespero de tentar dormir e ingeri vários remédios. Não me recordo quanto tempo durou, mas lembro que passei algumas horas alternando entre desmaiar e acordar. Eu não conseguia reagir direito por conta da medicação que ingeri. Ao voltar ao normal, depois de horas, decidi que aquele foi o momento no qual havia chegado ao fundo do poço e decidi que jamais aquilo se repetiria.

Depois de pensar alguns dias sobre o ocorrido, decidi publicar nas minhas redes sociais que sofria de depressão e, se houvesse julgamento ou mensagens inapropriadas, somente excluiria as mensagens e as pessoas intolerantes do meu perfil, mas, ao contrário do que esperava, muitas pessoas se identificaram com a situação e algumas me disseram que tentaram voluntariamente ceifar a própria vida, ao contrário de mim que tomei muitos comprimidos e quase o fiz de modo acidental. Minha caixa de mensagens lotou com várias pessoas perguntando como consegui suportar por tanto tempo, pois, eles também estavam querendo ajuda e tinham vergonha de dizer ao mundo e também serem julgados.

Atualmente, pouco mais de quatro anos depois dessa decisão, consigo refletir cada vez mais de forma madura sobre os sentimentos suicidas e como dialogar, tanto com quem os tem quanto com quem não os tem e não entende o que nós sofremos. Entender a doença foi o que me deu forças para entender que aquele não era eu. Eu não sou uma doença, sou uma pessoa com um problema e preciso de ajuda para resolvê-lo, pois, sou infinitamente maior que ele.

Não é vergonha admitir que há algo errado. Tudo bem se às vezes não está "tudo bem". O importante é saber que somos maiores e mais fortes do que tudo isso. O importante é não desistir nos dias cinzas porque o amanhã sempre vem."

Gui Santos Lobo

Ativista, estudante e produtor de conteúdo

Ficou interessado neste tema? Leia o nosso lançamento do mês de setembro "Vida Após Suicídio."

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